Lost: Via Domus
|
Já virou clichê reclamar de jogos baseados em filmes ou seriados, já que a grande maioria deles é repleta de problemas e não traz nenhuma novidade. Geralmente a exceção para a regra reside entre aqueles poucos, inspirados em propriedades antigas, como o caso de "The Warriors", "The Godfather" ou "Lego Star Wars". Não é coincidência: eles simplesmente se saem melhor, pois não sofrem pressão para ficarem prontos a tempo, seja do lançamento do longa-metragem no cinema ou a estréia de uma nova temporada.
E o que esperar de um jogo inspirado na série "Lost", uma das mais populares dos últimos anos? Não muita coisa, infelizmente, já que "Lost Via Domus" se esforça muito pouco para se livrar da "maldição".
Amnésia na Ilha[]
Para não comprometer o andamento da trama principal na televisão - sob a desculpa de não ter que forçar os fãs a jogarem para obterem mais respostas -, os produtores do game resolveram criar um personagem totalmente novo, o fotógrafo Elliott, que, apesar de interagir com vários cenários e personagens conhecidos dos fãs, tem sua própria história e objetivos. Aqui somente o final parece dar alguma pista útil, e todo o universo da série serve apenas como cenário para aventura do novo protagonista.
Mais ou menos como aconteceu com a introdução do personagem de Rodrigo Santoro durante a terceira temporada, Elliott é apresentado ainda no vôo, antes do desastre. O jogo então cria situações para encaixar o fotojornalista na trama, baseadas em acontecimentos dos três primeiros anos da série. Sem memória depois da queda do avião, o objetivo aqui é recuperar seus pertences e conversar com outras pessoas para descobrir os motivos que o levaram a ser perseguido por um misterioso homem de preto e a avistar o fantasma de uma mulher na ilha.
A história foi dividida em sete capítulos, supervisionada pelos produtores da série, Damon Lindelof e Carlton Cuse, com direito a abertura e a recapitulação do episódio anterior, justamente como acontece na TV.
Adventure sem Aventura[]
"Lost: Via Domus" segue o estilo de jogos de ação e resolução de enigmas, como "Resident Evil" - só não espere ver zumbis, tomar muitos sustos ou disparar muitos tiros. Elliott basicamente explora florestas, praias e cavernas e troca itens e informações com outros personagens. De vez em quando ele foge do monstro de fumaça, dos tiros dos Outros ou até mesmo resolve minigames que envolvem a troca de alguns fusíveis em painéis de controle. É tudo muito rápido e rasteiro e aquele com uma mínima intimidade com um joystick podem terminar o game em menos de oito horas.
Há pelo menos uma grande sacada, que é no uso dos flashbacks: assim como na série, a trama de Elliott é pontuada por flashes de seu passado, que contém pistas para recuperar sua memória. E estes momentos são totalmente interativos. Com o uso de sua câmera, você deve fotografar momentos-chave e ainda descobrir extras escondidos, o que aumenta o interesse na exploração, ainda que tudo seja bem curto e rápido.
Fotorrealismo fanho[]
Para um jogo feito de maneira relativamente rápida, "Lost Via Domus" é muito bem apresentado. Os gráficos são de primeira e trazem todo tipo de recurso visual que se espera de um jogo moderno. Infelizmente a performance poderia ter ganhado um melhor polimento, já que são constantes as quedas de quadros de animação e momentos de lentidão.
A transposição dos atores para polígonos foi realizada de forma competente. Ainda que alguns tenham um certo olhar de peixe morto, os modelos de Jack, Hurley, Locke e Kate, por exemplo, são excepcionais e primam pelos detalhes. Pena que a dublagem estrague o encantamento: grande parte do elenco principal não emprestou as vozes originais, sendo substituídas por versões no mínimo bizarras, com timbres totalmente diferentes e sotaques estranhos, em especial os de Locke e Sawyer. Por sorte, atores como Michael Emerson (o Ben) e Henry Ian Cusick (o Desmond) ainda estão presentes para dar alguma dignidade aos diálogos, ainda que apareçam bem menos do que poderiam.
Agora, o aspecto técnico que realmente merece aplausos é a trilha sonora. As faixas, compostas pelo recentemente indicado ao Oscar, Michael Giacchino, entre várias criadas especialmente para o jogo e outras reutilizadas da série, estão entre as melhores dos últimos tempos. Elas pontuam muito bem a ação e contribuem para o envolvimento e o clima de mistério de maneira espetacular. É raro encontrar um jogo que utilize tão bem este aspecto e, com certeza absoluta, sem sua trilha, "Lost Via Domus" seria uma experiência ainda menos interessante.
Considerações Finais[]
Apesar da boa produção, Lost Via Domus não consegue se afastar do estereótipo do produto promocional. Apesar de contar com uma apresentação relativamente boa, como um jogo ele é raso demais, tanto em seu enredo quanto nos desafios propostos. Somente os fãs mais entusiasmados da série deverão ver algum atrativo, talvez pela curiosidade de interagir com seus personagens preferidos ou para tentar caçar pequenas pistas e extras propostos pelo roteiro.
|